DESCOBERTA
Quem fora temerário, quem galgara
da compacta montanha
os degraus para além da natureza?
Quem as fauces
de antros, abismos e desfiladeiros ousara desafiar com o próprio peso?
Que asas de águia nos ombros, que rapinas nos frágeis membros de homem, compusera a graça contra o cosmos?
Quem atingira o verde vale
resguardado entre rochas, onde outrora negra fornalha vomitava chamas?
Quem pisara o planalto
cujas águas imaculadas eram espelho de libélulas?
Quem rompera o silêncio de milênios igual na majestade ao que precede
à criação no caos latente
para do peito desarraigar
palavras de alicerce que entre as pedras como pedras se firmam:
- "Esta é a minha morada para sempre"?
INVENTIO
Quis ita temerarius homo accesserat
ad duri montis arduos
gradus, ultra naturam scandens viribus?
Quis est faucibus
voraginum et specuum et gurgitum ausus sui levi pondere se opponere?
Quas aquilinas alas aptas umeris
et in cosmum rapinas gratia dederat viro sic ante fragili?
Quis vallem illam viridem attigerat
stratam sub muro saxeo nunc et placidam vomentem sed cratera quondam flammeum?
Quis illud arvum conculcaverat
cuius lympharum tantum specula
erant libellulis spectaculo?
Quis ruperat silentium milliarium
in maiestate sua et illi simile
latenti in chao ante genesin
ut illa excideret de pectore
fundamentalia verba quae inter lapides
ut lapides sunt solida:
"Haec mea et in aeternum erit mansio "?
MURMURINHO
O visão do demônio, ó força mágica, membro das trevas destacado!
Volta às plagas do ignoto,
teu baluarte é sem nome!
Perca-se na floresta o teu vulto,
teus olhos são estranhos pélagos!
Levem-te os ventos para longe,
tua voz atrai as serpentes!
Arrebatem-te as ondas do oceano
teus passos deixam fundas marcas!
Desaparece em sarças de fogo,
tuas mãos têm nódoas de sangue!
(A Policarpo de Azevedo
que ninguém sabe onde andará,
perseguem fúrias de além-mar
no murmurinho brasileiro)
MURMURILLUM
O diabolica visio vis o magica
o membrum disiunctum a tenebris!
Te ignoti in plagas retrahe,
castellum tuum sine nomine!
Tuus vultus condatur in nemore:
oculi tui sunt atrum pelagus!
Ab hinc te venti longum auferant:
tua vox serpentes allicit.
Vorent utinam te undae oceani:
tui passus humum signant funditus.
Torreat utinam te ignis veprium:
en manus tuas sanguis maculat!
(Hunc Polycarpum, vilem daemonem,
qui nemo scit ubíne latitet
sequuntur transmarinae furiae
per rura et murmura Brasiliae.)
VOCAÇÃO
Ah! que esse vulto estranho
talvez evoque tempos mortos,
no anseio de achar vida nova.
Caminha a largos passos lentos.
Traz no horizonte os olhos fixos.
Talvez nas nuvens veja signos
e logre coordenar palavras
do alto e secreto códice
que ao võo convida almas e aves.
Vem de outras terras e outras eras,
rosário ao pescoço e bordão,
na roupagem de franciscano.
Talhado para empresas magnas,
o corpo esbelto vence as fráguas,
o espírito quer plenitude.
Ei-lo. Da planície contempla
a serra que na tela azul
recorta a máscara de um homem.
(Negra muralha de montanhas
torna-se escada de Jacob,
não antes da luta com o anjo)
Empalidece o peregrino.
Fogem-lhe os ímpetos. Ajoelha-se.
E há luz em volta aos seus cabelos.
VOCATIO
Et forsitan hic peregrinus
temporis acti qui meminerit
diversam cupiat sibi vitam.
Eundo lente passu lato
oculos vertit in longínqua.
Haud scio in nubibus an signa
legat et quaerat alta verba
illius codicis volandi
quem sicut aves norunt animae.
Tempore et terra ex alia ventus
baculum gerit et rosarium
indutus veste franciscana.
Formose ad ardua destinatus
corpore sibi petit aspera
sed vult spiritui plenitates.
Sistenti gradum mons apparuit
in caelo caerulo designans
hominis oris saxei vultum.
(Hic praeceps mons ut scala lacob
ei fiet olim sed cum angelo
antea necesse erit pugnare.)
Tum peregrini facies pallet;
impetum fugit; flectit genua:
est circurn frontem eius lux.
A LENDA
Carlos de Mendonça Távora,
nome singular que ofusca
de névoas a manhã primeira.
Paira no leito flutuante
de ondas e espumas deixando
sulcos e auras de mistério.
Salvo das águas o vime
retoma dos tempos bíblicos
o roteiro de Moisés.
Vem de uma estirpe imolada
por uma violência expressa.
Restaura sua linhagem
como herdeiro da promessa.
FAMA
Carolus Mendonça Tavora
nomen nobile est sed obrutum
mane primi spissis nebulis.
Id incerto fluens alveo
in spumosis undis imprimit
repletos sulcos mysteriis.
Ut olim tempore biblico
sublato vimine fluctibus
alter Moses viam superat.
Ex stirpe Carolus oritur
violentae legis victima.
Instaurando gloriam patriam
heres fit promissi nobilis.
SOLIDAO
Um homem na solidão
- que perene solilóquio! -
fala profundo a si próprio.
Fala a Deus em termos claros
a fluírem das mesmas águas
pela eternidade em curso.
Fala com tremor na voz
para que relvas e musgos
a palavra testemunhem.
Fala com os ventos diversos
para que a mensagem levem
aos ouvidos do horizonte.
Fala com o penhor das rochas
para que as estrelas o ouçam
desde a pedra em que se assenta:
"Da pedra de solidão
hei de levantar um templo".
SOLITUDO
Vivens vir in solitudine
perennique soliloquio
altissime secum loquitur.
Clarum verbum Deo loquitur
fonte quod ab uno profluens
in aeterna tendit tempora.
Cum tremore in voce loquitur
verbis sufis utqui praebeant
herba et muscus testimonium.
Ventis et diversis loquitur
utqui secum nuntia deferant
horizontis usque terminos.
Celsis rupibus et loquitur
voce tanta ut id e lapide
ubi sedet audiant sidera:
"Hic e petra solitudinis
extruam Dei aedificium "
A IGREJA
Oito mil cruzados
dão para o alicerce.
Oito escravos negros
carregam as pedras.
Dezoito degraus
plantam colunetas.
Pórtico na frente
galeria em volta,
delicadamente
modesta por fora,
recama-se a igreja
de lambris e rosas.
Anjos invisíveis
trabalham na empresa:
sobre o oceano,
tensos fios de ouro estendem
por onde cortinas
de damasco chegam.
Preparado é o trono
da Virgem formosa
que arrancou de longe
com o menino ao colo
para de hoje em diante
residir conosco.
Ambiente propício
de graças e musas,
cibórios, relíquias,
perene dossel,
guarda com penumbras
a Porta do Céu.
TEMPLUM
Nummi octo millia
fundamentis suppetunt;
servi octo picei
rudes portant lapides;
gradus et octodecim
columellas inserunt.
Stat in fronte porticus
muros ambit atrium;
adytum exterius
forma splendet humili;
emicat interius
tabulis et floribus.
Quos non vident oculi
collaborant angeli;
mare super explicant
aurea fila tramitum
qua tum vela insignia
damascena veniunt.
Sic paratum solium
est speciosae Virgini
huc migranti a peregre
cum in gremio Puero
ut nobiscum maneant
per futura saecula.
Aer hic propitius
musis atque gratiis
gemmeis ciboriis
sacris et reliquiis
servat in umbraculo
Caeli Portam lucidi.
ORAÇÃO
Nossa Senhora Mãe dos Homens,
a tua igreja está de pé.
Dias rudes, noites insones
testemunharam minha fé.
Quem há de completar a obra
que reguei com meu pranto e suor?
A mim, carece-me o que sobra
a teu poder e a teu amor.
Tu que nos fizeste nascer
para a graça, espiritualmente,
conserva-nos junto ao teu seio
tão fecundo como inocente.
Pela tua maternidade
mística e real, à hora da dor
em que a todos nos irmanaste
a teu Filho Nosso Senhor.
ORATIO
Domina Nostra, Mater Hominum,
solide stat tuum sanctuarium.
Labor diei noctiumque inquies
testes sunt fidei quae me tenuit.
Nunc meo sudore et multa lacrima
opus incoeptum quis perficiet?
Vere mihi deest quod et superest
amori tuo atque potentiae.
Ouae nos fecisti spiritualiter
divinae gratiae tamquam filios
serva nos semper, ad virgineum
aeque et fecundum sinum retinens.
Maternitate tua mystica
et vera hoc fac, in hora gemitus
qua nos genuisti fratres Domini
Nostri, Tui Iesu Christi Filii.
ROMARIA
Aonde vai essa gente a subir a encosta, essa gente que leva o semblante sombrio
e entrementes recobra o sorriso da infância?
A que vão as numerosas criaturas
de ombros caídos e frouxos braços?
Em que serenos lagos se banham?
Sob que largas árvores descansam?
Que óleo se derrama sobre as almas e os corpos dos que vão ter ao cimo rochoso
e à planície logo depois regressam
como se houvessem renascido?
De que tecido são as novas vestes imaculadas e simples
a adelgaçarem a cintura dos que lá deixaram suas antigas escuras roupagens?
Que luz é essa a brilhar nos olhos
do homem taciturno chegado há pouco
e agora gárrulo entre as crianças e as fontes
sorvendo a plenos pulmões o ar livre?
Tudo isso é misterioso ao extremo.
E eu bem quisera, unida à Montanha Viva, participar do segredo que se resguarda
no seio das pedras sob a coroa das nuvens.
PEREGRINATIO
Lassoque pede et tristi vultu
quo vadit turba peregrina
quam mox reficiet risus primus:
Quo pergunt illi filii Dei
remissis bracchiis umerisque?
Quibus in rivulis lavantur
vel quibus umbris recreantur?
Quo in oleo corpus quoque et animam roborant cum verticem petunt
ita ut planitiem repetentes
sint quasi nati rursus essent?
Quo filo textae puro sunt
hae vestes integrae tegentes
corum corpora qui vestes
veteres illic reliquerunt?
Quam festa lux in ore illius
hominis qui tacitus venerat
sed inter fontes nunc et pueros
garrulus crebras auras haurit!
Haec omnia sunt arcana sacra.
Utinam possim, monte concors,
secreta scire quae servantur
sub nubibus petroso in sinu!
ROMEIRA
Joelhos em terra, braços abertos,
de vela acesa nas duas mãos,
surge a romeira que o sofrimento
plasmou sublime na gratidão.
Sempre de joelhos vencendo os pisos penetra a nave sob os olhares
dos cem devotos mudos de assombro
que se apressuram a abrir-lhe passo.
Em frente ao nicho do altar maior
baixando a fronte depõe a dádiva
do pranto enorme que desce orvalho
por suas faces de ardente rosa.
Chuva de graças com sete cores,
que espessas brumas, que brumas frias
não te geraram, para que em jorros
te derramasses pela campina!
PEREGRINA
Bracchiis extensis genibus gradiens
utraque in manu cereum portans
it peregrina quae nunc dolores
suos in gratias vertit sublimis.
Dum pavimenta genu ita vincit
atque pervadit in presbyterium
iter aperiunt ei peregrini
ceteri statim visu permoti.
Maximi altaris quando ad columnas
tum fronte prona deponit suum
ingens e lacrimis donum, rorem
qui fluxit genis ardenti rosae.
Te, grata pluvia septem colorum,
quot densae nebulae gelidaeque
te genuere, tepidis undis
ut irrigares tacita prata!
IRMÃO LOURENÇO
No claustro novo dos monges
para lá e para cá
o Irmão Lourenco passeia.
Entre o jardim das camélias
e o pujante paredão,
seus passos largos sem peias
batem com força no chão
Na galeria do pátio
para lá e para cá
o homem de Deus passeia.
Entre o mosaico das telhas
e o azul que lhe ergue a visão,
seus passos com certo enleio
pisam de leve no chão.
No mudo claustro vazio
para lá e para cá
o velho santo passeia.
Entre os flocos de neblina
E o vento que uiva à mansão,
seus passos já sem esteio
vão se arrastando no chão.
FRATER LAURENTIUS
In recenti firmo porticu
huc et illuc usque inambulans
spatiatur Frater Laurentius.
Via facta inter camellias
et ingentem murum saxeum
suo largo passu libero
humum pulsat pede fortiter.
In maturo sacro porticu
huc et illuc usque inambulans
Dei vir spatiatur humilis.
Subter et tessellas teguli
et caeruleum tectum caelicum
suo tenui passu pendulo
humum tangit pede leviter.
In silenti vacuo porticu
huc et illuc usque inambulans
senex Dei spatiatur debilis.
Inter vagos floccos nebulae
et in domum venti gemitus
suo tardo passu tremulo
humi trahit pedes segniter.
APARIÇÃO
Alguém penetrou a furto na cela escura. Alguém tocou as tábuas toscas do assoalho. Alguém se aproximou docemente do leito rude.
Talvez uma fímbria de luar entre arbustos,
um cálido estalido de madeira, espontâneo,
a evocação de um afago materno.
Porém o lírio da madrugada descerra as pétalas,
o véu da montanha torna-se diáfano,
a água de que bebem os pássaros transluz:
Na alcova do ancião enfermo - toda bela, Maria.
VISIO
Videtur quis in cellam furtim intravisse. Videtur tabulatum pede tetigisse
et rudem ad grabatum proxime cessisse.
Forsan lunaris fímbria ut quando inter arbusta
seu crepitus in ligno sponte sua factus
seu maternae blanditiae in mentem revocatio.
Sed vere radiat matutinae lucis lilium fulget translucidus in monte levis nimbus et luce splendet aqua clara avibus grata
dum tota pulchra infirmi senis in cubículo
stat Maria.
O SINO
O sino grande
tange, tange.
Másculo escande
vozes vibrantes
nos seus descantes
de solidão.
O sino grande
tange, tange.
Na tarde escampa
com rolas brancas
voando e revoando
pela amplidão.
O sino grande
tange, tange.
Tal como dantes
aquele grande
fiel coração
do santo Irmão.
O sino grande
tange, tange.
AES
Aes giganteum
tonat tonat.
Mascule voces
scandit sonoras
quas in deserta
vibrans refundit.
Aes giganteum
tonat tonat.
Ample sub vesperum
nivea turtur
suis castis alis
aethera scindit.
Aes giganteum
tonat tonat.
Eo modo semper
quo illud magnum
ac fidelissimum
cor sancti Fratris.
Aes giganteum
tonat tonat.
A GALERA
Vai partir Gran Canoa.
A viagem será longa.
O ar está sossegado.
Os semblantes, severos.
Dentro em pouco a distância
não terá mais medida.
Entre o navio e a gleba
todo o mar - infinito.
Secou-se o último beijo
nos lábios - de tão secos.
Quem balbuciar pudera
a palavra, o suspiro,
a enterrar-se no peito
como nos labirintos
(ai! o fio se rompe)
esse fio perdido
que jamais se reatou?
Vai partir Gran Canoa.
Os missionários jovens
se persignam. E calam.
Sob as negras batinas
o coração lhes bate
descompassadamente.
Talvez nunca regressem
(a missão é perene)
e talvez nunca cheguem
(perigoso é o roteiro)
a essa terra que os move
do outro lado do oceano.
Perigoso é o roteiro
para a nave que sulca
esses mares enormes.
Rezam Viçoso e Leandro
olhos fixos na altura.
Lutam passando o Algarve
os vagalhões com as ondas.
Já na sombra se inculca
um navio corsário?
Já se assestam canhões
para o lado da nave?
Pelo sim, pelo não,
já se exibem solertes
os artilheiros lusos.
Vai em paz, Gran Canoa:
chegarás a bom termo.
De uma serra longínqua
à hora extrema da morte
(e que nuvens e que auras
lhe arrebatam o espírito?)
já um santo o adivinha:
chegarás a bom termo.
Sim, que os seus missionários,
tão desejados, trazes,
e com eles a chave
que abre a Porta do Céu.
Vagarosa, altaneira,
distribuindo esmeraldas
à luz de nova estrela,
Gran Canoa navega.
NAVIS GRANDIS
Iam iam solvit Navis grandis.
Diuturnum erit iter.
Stant serena caeli tecta
et deiecti pendent vultus.
Post non multos dies nemo
intervalla mensurabit.
Inter navem et tellurem
mare fiet infinitum.
Vale post supremum labra
sicca nimis aruerunt.
Posset lingua balbutire
illa verba et desideria
intra pectus tumulata
velut intra labyrinthos
quando filum rumpebatur
eo modo sic recisum
ut nunquam religaretur.
Portum solvit Navis Grandis.
Iuvenília cruce pectora
signant muti sacerdotes.
Pulsant eis sub vestitu
sine lege lente cito
corda valide turbata.
An redibunt est incertum
(missionis non est finis)
et incertum an perveniant
(cursus est periculosus)
quo invitat illos illa
in adverso terra litore.
Cursus est periculosus.
Vastos prora scindit fluctus
dum vehementes vincit aquas.
Una Antonius et Leander
orant caelos invocantes.
Ad Maurorum scabras rupes
ingens vorat unda parvam.
Quae sub umbra surgit navis
estne casu piratarum
cum dispositis tormentis
in carinam verberandam?
Parant cauti, id dubiosi,
lusitani miram artem
belli plumbum iaciendi.
Pax sit tecum, Navis Grandis!
Felix metam assequeris.
De longinquo monte sacro
hora mortis in extrema
(quot et nubes quot et aurae
sursum tollunt moriturum)
sanctus sic praedicit frater:
"Felix metam assequeris".
Quos vocavit certe vehis
missionis sacerdotes
et per eos etiam clavem
qua aperitur Caeli Porta.
Nando tardius et superbe
gemmas claras respergendo
grata luce novae stellae
iter pergit Navis Grandis.
A LUZ
Não esta luz dos trópicos, ardente,
que o arvoredo orvalhado já pressente erguendo os ramos para recebê-la.
Não a luz penetrante que a primor
na transparência dos cristais espelha
a mesma luz louvada do criador.
Não essa luz que o nosso olhar prefira,
ávido de celeste azul safira
ou de púrpura régia ou de tons de ouro.
Nem a luz que ilumina os olhos belos, portadores de amor, formados de elos torvelinhando em claro sorvedouro.
Mas outra luz de tempo mais profundo,
outra, de que se mostra a leve imagem,
move as almas em flor do velho mundo
para a contemplação desta paragem.
LUX
Lux at non tamen tropica lux fervida
quam mox denuntiat arboretum roscidum
in eam erigendo ramos avidos;
aut illa quae lux penetrans et rutila
cum transit per crystallum reddit fulgida laudata a Creatore prima lumina;
nec illa vero lux quarn mavult intuens
is cui aut caeli color est spectaculum
aut guri fulgor aut regalis purpurae;
haud tandem lux qua pulchri fiunt oculi
amore lucidi, oculi sirenii, in gurgite refluentes claro vortice,
sed altioris temporis lux alia
quae tantum per imaginem ostenditur
vetere e mundo novas movit animas
novae regionis huius ad indagines.
AS PROVAÇÕES
É a montanha dos porfiosos granitos,
é a montanha das vigílias e do sono propiciatório,
a montanha viva.
coração humano desconhece repouso.
Cada dia é mister renascer para a luta.
Sem trégua as picaretas golpeiam a rocha à
procura de linfa,
os olhos queimam de sol a sol decifrando enigmas.
E quando à noite o fatigado corpo se abriga
no semitorpor cerrando a franja das pálpebras,
eis que os ouvidos temerosos se enleiam:
o uivo de soltas alimárias atravessa paredes,
friamente penetra o sagrado refúgio do homem.
Porém a lâmpada que arde na sombra pendurada a
correntes
é seiva de tronco alimentando o rubor de entreabertas orquídeas,
é gota a gota o sangue azul a consumir-se em oblata.
Perde-se então aos poucos nas quebradas da serra
o uivo longínquo das alimárias.
O coração humano desconhece repouso.
O homem se inscreve cada dia na eternidade
com uma nova presa debaixo do pés
PROBATIONES
Hic ille est mons abruptus qui fastigiis provocat.
Hic ille est mons vigiliae et mons tranquille placidus
MONS VIVUS hic est.
Cor hominis quietem non cognovit.
Surgendurn est cotidie ad pugnas necessarias
caedenda est ferro semper fontis rupes afflui
dum lente comburuntur oculi in aenigmata.
Cum fatigatum corpus cadit noctu languide
et somno oppressum palpebrarum claudit fímbrias
tum aures perturbantur pavide dum metuunt
illo ferarum ululatu tactae lugubri
qui penetrat sub sacra humana tecta frigide.
At illa vero in umbra stat lucerna pendula
ut sucus et ut stipes quo flos rubeus alitur
et quasi fundens sanguis se guttatim in hostiam.
Effusa lente in montis silvas et angustias
beluarum vox longinque absumitur.
Cor hominis quietem non cognovit.
Aeternitati adscribitur cotidie
altera suis demissa praeda pedibus.
OS BURRINHOS
Os burrinhos orelhudos
carregam livros no lombo.
Pela esquerda, de mistura,
pendem dois grossos Camões.
Do outro lado se penduram
infólios de São Jerônimo.
Os burrinhos orelhudos
irmãos do asno de Balaam.
A conta dos pobres bichos
por desfiladeiros hiantes
sobem Homero e Vergílio
para altíssimas estantes.
Sobem os mestres do estilo
volumosos e triunfantes.
Dariam queixa os burrinhos
se o anjo tivessem por diante.
Custam prata, custam ouro,
livros com armas de Antuérpia,
de Roma, de Varatojo.
De Elzevir a águia com as flexas,
de Gryphe o excelso condor,
pesa que os burrinhos levem
sem a experiência do võo.
Entre a natureza e a glória
os liames fortes da graça.
Rompendo os cascos na rocha
ai! que os burrinhos já falam.
ASELLI
Auriti aselli patientia
magnos dorso libros sustinent.
In sinistro mixtas agitant
duas validas Lusiades
et a dextro pendent latere
Hieronymi volumina.
Auriti aselli patientia
Balaam asinae fraterculi.
Intra hiantes illi gurgites
portant, miseri quadrupedes,
et Homerum et Vergilium
vere altissimos ad pluteos.
Ascendunt etiam magnifici
musarum comites alii.
Aselli questus profunderent
eis si ante iret angelus.
Auro multo libri veneunt
signati Romae, Antuerpiae,
Olisiponisque nomine.
Dum Elzevirii portant aquilam
Gryphique pariter et vulturem
utinam foret eis solacio
mira volandi experientia.
Naturae tamen est et gloriae
est ut ligamen gratiae vinculum:
tundendo, viden, petris ungulas
iam fabulantur nostri aselluli.
PASTOREIO DAS ALMAS
Pastoreio das almas
no campo em que amanhece a natureza
ao ar livre entre calmas
sugestões de beleza,
do céu a vista inteiramente presa.
Amável pastoreio
em que as ovelhas têm guarida
pelo vergel em meio
a pomares de fruta apetecida
ao lado de uma fonte e de uma ermida.
Um evolver mais doce
de recordar isento,
uma aura inaugural que a brisa trouxe
dá cada dia alento
a essas pastagens do aperfeiçoamento.
Teoria a que se alude
sob a sombra das árvores antigas, encontrou plenitude
e permanência em vigas
e vinhas e no alcândor das espigas.
Por que as almas se guardem na candura
das vestes primtivas
tu, Senhor, na mais pura
vida de amor cultivas
os mesmos corpos junto às fontes vivas.
Já nas águas adentro
um círculo de nácar se ilumina
e à refração no centro
outra luz imagina
não apenas humana mas divina.
Aos colóquios ideais
entre o pastor e a ovelha mais discreta, sucede a íntima paz
quando o orvalho se aquieta
no invólucro feliz da flor completa
IN PASCUA
Rure pascit animas
sub divo pastor et sub aura tepida dum aurora rubida
pulchrum bonumque suggerit
caeli contemplatoris fixis oculis.
Amore pascit tenero
dum praebet ovibus refugium
in viridariis floridis
fragrantibus pomariis
inter vicinum fontem et aediculam.
Hic dulcius vita volvitur
et sine desideriis.
Aditialis aura leni murmure
cotidie rorem fertilem
fert in perfectionis huius pascua.
Ars cognoscendi hic discitur
placida in umbra annosis sub arboribus inventa plenitudine
et robore perpetuo
in trabibus in viti in summa segete.
Ut puras in candore servent animae
sibi suas vestes príncipes
tu, Domine, mundissima
in vita amoris integra
ad fontem vivum colis ipsa corpora.
Medius in unda liquida
iricolori luce fulget circulus
qui refringendo multiplex
lucem refingit aliam
humano sed divino quoque praeditam.
Sublime post colloquium
pastoris et fidentis ovis providae
iam pax succedit intima.
Tum ros quiescit lucidus
in floris involucri beatitudine.
A OVELHA
Encontrastes acaso
a ovelha desgarrada?
A mais tenra
do meu rebanho?
A que despertava ao primeiro
contato do sol?
A que buscava a água sem nuvens
para banhar-se?
A que andava solitária entre as flores
e delas retinha a fragrância
na lã doce e fina?
A que temerosa de espinhos
aos bosques silvestres
preferia o prado liso, a relva?
A que nos olhos trazia
uma luz diferente
quando à tarde voltávamos
ao aprisco?
A que nos meus joelhos brincava
tomada às vezes de alegria louca?
A que se dava em silêncio
ao refrigério da lua
após o longo dia estival?
A que dormindo estremecia
ao menor sussurro da aragem?
Encontrastes acaso
a mais estranha e dócil
das ovelhas?
Aquela a que no coração eu chamava
- a minha ovelha?
OVIS MEA
Deviam ovem meam
forte invenistíne?
Quae gregis inter oves
tenuior est omnium?
Quae somnum deserebat
ad primum solis osculum?
Quae se lavandi studio
purum quaerebat fontem?
Quae flores inter errans
in sua lana bibula
olores retinebat?
Quae cum timeret spinas
in plano campo gramina
vel potius frequentabat?
Quae secura lumen aliud
suis ferebat oculis
cum primum subter vesperum
tum repetebat stabulum?
Quae saepe mihi ludebat
ad pedes in laetitia?
Quae lunae refrigerium
iam verso die aestivo
tam tacite carpebat?
Quae dormiens turbabatur
cum flabat aura leviter?
Forte invenistíne
ovem quae mirabilis
simul atque docilis
vocabatur mea
mihi in imo pectore?
O PASTOR
Sou um simples pastor
de sandália e estamenha,
meu cajado é bem tosco.
Porém dói na minha alma
cada espinho na carne
delicada da ovelha.
Dói-me saber que a doce lã
da minha ovelha se emaranha
nos carrascais espessos.
Dói-me saber que a alvura
pela eucaristia - tão sua -
cobriu-se de cinza e poeira.
Busco-a de recanto em recanto
através de todos os tempos.
Descubro às vezes o seu rastro
numa rósea gota de sangue.
Mas ela foge ao meu encalço
como se me desconhecesse.
Busco-a, no entanto, somente
para revesti-Ia de lírios
- a que minhas cãs imitam;
para a sede mitigar-lhe
na mais límpida fonte
(a que se juntam minhas lágrimas);
para levá-la nos ombros
aonde se encontra a vida;
para morrer - como pastor -
depois de havê-la no redil.
PASTOR
Sum pastor pauper vetulus
tectus sandalio et vellere
nodoso firmus baculo.
Mihi tamen dolet intime
si pungit ovem spinula
in corpus dura tenerum.
Mihi dolet etiam intime
si implicuit ovis crispulos
de lana floccos vepribus;
aut vestem eucharisticam
tanto candore nitidam
in pulvere dedecorat.
A latebris in latebras
in dies eam quaeritans
nonnunquam signum video
in rosei gutta sanguinis
at fugit e vestigio
quasi quae non me nosceret.
Eo longius tamen abeo
ut eam tegam liliis
canis meis simillimis;
et eius sitim relevem
in fontis aqua limpidi
admixtis meis lacrimis;
et eam feram umeris
quo vita plene vivitur;
et ita pastor moriar
sed ove salva in stabulo.
DISCIPLINA
Eis o decisivo marco,
o apanágio do ritmo.
Tomai vossos instrumentos
ao mesmo tempo.
Iniciai a marcha
com alma e corpo.
Medi os passos
- nem largos nem curtos -
à medida exata.
Caminhai em fila
sempre para a frente.
Perfilai eretos
e imóveis no posto.
Recebei a seiva
das árvores firmes.
Dançareis depois.
Os braços abri
em toda a extensão
para os horizontes.
Sorvei com os pulmões
a aura das campinas.
Olhai longamente
para o firmamento.
Das nuvens colhei
o gosto das cores.
Aprendei dos pássaros
o claro solfejo.
Cantareis mais tarde.
Preparai nas grutas
os destinos do homem.
Entre altas paredes
adensai a sombra
em torno a vós mesmos
Olhai-vos no poço
sempre mais a fundo.
Impregnai-vos da noite
- relicário abscõndito
a que buscam os astros.
Então, brilhai.
DISCIPLINA
En discrimen ultimum
rhythmi ratio maxima.
Instrumenta capite
omnes uno tempore;
animoso corpore
gradum ferte parilem;
passibus nec rapidis
neque lentis passibus
ite via aequaliter;
gressibus continuis
ordine procedite;
recte vos consistite
et immote positi;
validis arboribus
vivum sucum trahite;
postea saltabitis.
Bracchia vestra extendite
late quam latissime
ad extrema montium;
auras vernas vallium
haustu pleno sumite;
in caelestes fornices
ferte versos oculos;
et colorum gaudia
legite de nubibus;
disciteque ex avibus
septem sonos musicos;
postea cantabitis.
Paratote in latebris
hominis constantiam;
vestri et in circuitu
tectis sub altissimis
densas umbras facite;
funditus in puteum
ipsi vos inspicite;
nocte ut illud scrinium
quo protendunt sidera
nocte vos imbuite.
Ita vos lucebitis.
AS VIRTUDES CARDEAIS
Não há dúvida - o assédio.
Nem há fugir: o assédio.
Sussurros pela alfombra
como estalar de seixos.
Resistências antigas
a trabalho de filtro
já, pouco a pouco, cedem.
E já se congratulam
graves e eqüidistantes
os extremos opostos.
Bem defronte aos teus olhos
como dentro em teu ânimo,
ergue-se a fortaleza.
Fortaleza sofrida.
Não te ponhas tão sôfrego:
esse fruto está verde.
Vem depois das noturnas
orvalhadas o açúcar.
Ainda que nos primórdios,
temperança é bom gosto.
Lentidão de prudência
nos seus teares espessos.
Longos e fortes fios
teu agasalho escudem
para os últimos fins
da viagem pelo escuro.
Límpidos, os cristais.
Isso é teu, isso é de outrem.
É o carro da justiça
que distribui igual
por moedas diferentes.
E a todas as querelas
põe o selo absoluto.
Nesse ambiente de obstáculos
sem evasão possível,
as virtudes cardeais
te possuem. Por elas
teu corpo foi ferido,
teu coração, ferido.
VIRTUTES CARDINALES
Nunc illud certe obsidium
nunc illud sine dubio.
Fit fremitus gramineus .
saxeo crepitui similis.
Stabilitates veteres
aquis insinuantibus
lente cedentes decidunt
dum quoque extrema opposita
et nitide distantia
congratulantur invicem.
At tibi praeter oculos
aut intra tuum animum
stat Fortitudo firmiter.
Fortitudo quam patiens.
Cur ista tanta aviditas?
Est crudus fructus arboris.
Solum nocturnis pluviis
post rorat dulce saccharum.
Iucundus in primordiis
est sapor Temperantiae.
Lentitia Prudentiae
textilia spisse conficit.
Sint longa fila fortia
quae tuam vestem protegant
illo supremo in exitu
viae submersae tenebris.
Nunc en crystalla lucida:
istud tibi istud alii.
It currus sic iustitiae
quae tribuit aequaliter
sed nummis non aequalibus
et in litigiis omnibus
sigillum ponit ultimum.
Haec inter tanta obstacula
te sine fuga minima
virtutes illas principes
seu cardinales possident
eo quod tuo cordi et corpori
vera intulerunt vulnera
MATINAL
Acorda de madrugada
em lugarejo distante
uma voz terna e confiada:
- Deus é grande.
Nasce das escuras pedras
uma fita de água voante
em que o arco-íris se reflete.
- Deus é grande.
As águas límpidas jorram
de banquetas espelhantes
num desperdício de jóias.
- Deus é grande.
São cabritos, vêm aos saltos
esses meninos ao banho.
Como está cheia a cascata!
- Deus é grande.
O poço preto do diabo
com sua velha artimanha
fica ali perto no mato.
- Deus é grande.
Os meninos que desnudos
e rosados lembram anjos
pênseis do sol à moldura
- Deus é grande -
atiram sete pedrinhas
no lameiro do demônio
sete vezes repetindo:
- Deus é grande.
AD MATUTINUM
lam orto lucis sidere
fit dissito in pratulo
dulcisona vox fidei:
Quis ut Deus?
De fusca rupe nascitur
fonticulus volatilis
et lucet arcus pluvius.
Quis ut Deus?
Undae spumosae pullulant
de repercussis gradibus
inaniter gemmiferae.
Quis ut Deus?
Nunc iuvenes capreoli
saltatim petunt balnea
et cataractas contegunt.
Quis ut Deus?
Obscurus Satan puteus
artis periti subdolae
in silva hiat proxima.
Quis ut Deus?
Hic turba iuveniliter
- roseos diceres angelos
de solis ora pendulos
-Quis ut Deus? -
emittunt septem saxula
in foedi lamam daemonis
et vocem iactant septies
"Quis ut Deus?"
O ÓRGÃO
A exemplo do Criador,
plasmou o Artista, em madeira,
sua caixa de música.
E com o cedro incorruptível,
veio a lembrança dos pássaros.
E com o negro jacarandá,
um revérbero de vagalumes.
E com as raízes do alto pinheiro,
o odor da malva e do musgo.
Arvoredo ou jaula?
E esse favo de mel com zumbidos antigos,
e esse tufo de orquídeas em rapto,
e a água que escorre nos desenhos do vento?
As mãos poderosas do Artista,
soa em plenitude o canto.
(Nos seus recônditos freme
a selva. E são vivas clareiras.)
0 canto que jamais se ouvira.
Do bojo seco da matéria
para as madrugadas do éter.
ORGANUM
A Creatore exemplum capiens
e levi ligno arcam musicam
peritus ille fecit opifex.
Una cum cedro incorruptibili
inclusa mens remansit avium;
et cum obscura e silvis tabula
remissa lumina lampyridum;
et cum radice pini altissimae
odores malvae et musci teneri.
Illicne silva an carcer volucrum?
Qui favus ille resonans antiquo fremitu
quae crista florum turgida
et quae nunc fluitans aqua intra ventorum lineas!
Firmis sub digitis artificis
personant cantus plenitudine.
(Dum silva fremit in reconditis
tum et aperta fiunt lucida.)
Et inauditum meios fulgidum
ab alvo ligni sicca defluens
leves in rores it diluculi.
O CORO
Sob arcadas votivas
alvorecem espigas
em feixe contra o vento.
Para o solo se inclinam
brandamente, para o alto
com arroubo arremetem.
Ao balouço das auras
nasce, tímida, a aurora
de um azul em crescendo.
Eis que a palavra soa
nas vibracões do bronze
entre dédalos: Dómine.
Eram vinte, eram cem
a cantar? Mas apenas
um coração se ouvia.
Tudo o mais pelas foscas
alagoas do olvido
se espraiava sem nome.
Só o canto a singrar
- clara gôndola - as águas
do silêncio no cosmos.
E na esteira, a esperança
de que se eternizasse
o céu da terra: 0 Dómine.
CHORUS
Hic sub votivis arcubus
iam nunc albescunt segetes
in ventum mire flexiles
ad humum curvae placide
seu pulsae sine pondere
ad altura crebro et impetu.
Aura spirante leniter
aurora suavis nascitur
magis magisque caerula.
Dum inter tubos daedalos
metallum sonat, subito
haec volant verba "O Domine".
Quotque cantabant pueri?
An centum an plus etiam?
At unum cor et anima.
Vagabat omne ceterum
diffusum sine nomine
oblivii in paludibus.
Solus, clara navicula,
cantus findebat unice
aquas silentii cosmici.
Post ilium in vestigiis
spes hoc fore perpetuo
in terra caelum "0 Domine".
PROCISSÃO
Corpo de Deus! Benvindo
sejas à terra pelo tempo infindo, rochas movendo, corações ferindo,
límpidos sóis e areias
juntando ao mesmo passo nessas veias pelas quais entre flãmulas passeias.
E a Carne, é o Pão, é o Trigo,
é a Semente a brotar do solo antigo para acima das nuvens ter abrigo
no firmamento da alma
que arde do próprio azul, profunda e calma,
sobre os arcos de triunfo e as verdes palmas.
É o Mediador que vem
das paredes de vidro que 0 retêm
para o encontro primevo de Belém.
É o Verbo, o Lume, a Flor,
o Beijo, o Nardo, o Bálsamo, o Amargor do que se esquiva ao sangue redentor.
Cante, brilhe, floresça.
Fruto, no seu vergel amadureça,
mantenha - Cerne - essa floresta espessa.
Pise a pedra que 0 adora,
beba o olhar que se orvalha à branca aurora,
roce o musgo do peito que 0 namora.
CORPUS CHRISTI
Dei Corpus, benevolum
in terram venias infinito tempore
cum saxa moves atque corda vulneras
una miscendo fulgida
arenis sidera dum viam permeas
inter vexilla splendens tui itineris.
Es Caro Panis Triticus.
Es germinans ab humo Semen vetere
ut habeas ultra nubes domicilium
in firmamento animae
quae fulget in caeruleo suo placide virides arcus triumphales insuper.
Es mediatrix Hostia
quae clara e vitrea domo tua properas
ad illum Bethleem congressum pristinum.
Es Verbum Lumen Osculum
Nardus Balsamum Flos. Es Amarities
ei qui Redemptoris fugit sanguinem.
Sit tibi splendor gloriae.
Ut fructus tuo dulci in horto vigeas;
ut centrum, fons vigoris, silvam nutrias.
Proteras saxum quod Te adorat; haurias lucem quam rorat umidam diluculum
et muscum mulceas humi quae Te diligit
HERANÇA
Ouso à sombra de Dante ao meu Vergílio oferecer louvor com tal ternura
que me estremece a voz ao casto idílio.
Quem mergulhou um dia na leitura
do magno poeta vem transfigurado
de uma consciência límpida e madura.
Todo o valor do tempo no passado
volve de novo em raios convergentes
à lembrança de lume radicado.
Tudo emerge no plano do presente
- pronto, cálido e nítido - pelo ato
que é promessa de vida permanente.
A cada circunstância o termo exato
dá testemunho da alma que está presa
à contínua experiência do recato.
Esse conhecimento da beleza junto à simplicidade quase rude
já sobreleva os dons da natureza.
Clássico sereníssimo! Que o estude, sempre, alguém, à noção de que é mister entregar-se ao destino em plenitude
à maneira de Enéias para obter
a expressão que transcende esse destino
e é dádiva de sangue a um outro ser.
0 verbo humano, então, se faz divino
HEREDIUM
Patiente Dante celebrare audeo
Vergilium meum tantae laudis murmure
ut mihi deficiat vox in casto idyllio.
Qui carmina divina semel legit
a magno poeta sentit se moveri
in alteram translucidam conscientiam.
Temporis acti vigor omnis rediens
radios in unum inter se remittit
ad radicati luminis splendorem.
Perspicue fiunt omnia, res praesentes
tam callide promissae et aeque nitidae
ut in aeternum valeant permanere.
Quocumque exacte positum vocabulum
mentis continue testimonium perhibet
semper intentae moderationi.
Haec lucida scientia pulchritudinis,
cui quasi rudis additur simplicitas,
ut donum iam naturae dona superat.
En ille serenissimus poeta
semper colendus ei qui fato tradi
sese debere sentit plena mente
qualis alter Aeneas. Ita possit
prodere signum superationis
quod aliis sui sanguinis est donum.
In hoc humanum verbum fit divinum.
FORMATURA
Baga de loureiro
bacalaureato.
Erguem-se altaneiras
largas frontes claras.
Porém por que
toda a algazarra?
Corta-se ao meio
a estrada real.
Daqui por diante
fia fino:
o que obedeceu
mandará;
o que estudou
saberá;
o que se cansou
dormirá.
(Cabeças tontas,
ó vinho forte!)
Corta-se ao meio
a estrada real.
Atrás os nimbos
da Carapuça;
as moitas sobre
o Sumidouro;
as artimanhas
e conseqüências,
quem sabe? a férula
(mas é segredo)
A frente o brilho
de auroras súbitas:
esse diploma
de bacharel
vai dar à cátedra
de latinista,
a alguma púrpura
cardinalícia,
ou à mais alta
magistratura?
(A mariposa descobre a luz.
Ó vinho de
bom paladar!)
Corta-se ao meio
a estrada real.
Aqui nasceu
esta consciência,
esta vontade
de amar, servir.
Aqui cresci
tão menino!
Minha primeira
comunhão. .
Já os semblantes
estão suaves
sob a cortina
das lágrimas.
(Água da fonte
sob o vinho
tênue).
BACCALAUREATUS
Bacca laurea
baccalaurei.
Habent alta iuvenes
ora sua ad sidera.
Sed cur tot insolitis
domum implent vocibus?
Vere nunc itinerum
via media scinditur
et posthac pro tempore
erit res et altera;
qui oboediit
iam praecipiet
et qui studuit
iamque sapiet
exque itinere
fessus dormiet
(0 ebria capita
o vinum fervidum!)
Vere nunc itinerum
via media scinditur.
Retro sunt gelida
Pilei nubila
atque Fundibuli
spineta rigida;
et artificia
et consequentia;
forsan et ferula
(opus reconditum)
En obvia nascitur
aurora subita:
hic nempe titulus
de baccalaureo
ducit ad cathedram
latine divitem
seu tum ad purpuram
cardinaliciam aut rei fastigium
publicae praesidis.
(Ecce papilio
qui lucem invenit.
Vinum nectareum
et aromaticum!)
Vere nunc itinerum
via media scinditur.
Hic conscientia
est nata et animus
amore exercitus
et Dei et proximi;
hic crevit masculus
adulescentulus;
hic memorabilis
prima communio.
Nunc ora madida
suavius radiant
sub velo turbido
lucidis lacrimis.
(Aqua fonticuli
sub vino reddito
tenui.)
IRMÃO FREITAS
Na catacumba de gavetas, do lado da Epístola,
jaz Irmão Freitas.
Um produto das brenhas nativas - fiel e rústico.
Dorme o sono perfeito.
Tinha a tez cor de bronze, os cabelos ásperos,
era talvez analfabeto.
Engenheiro de truz, construiu a estrada para a chácara.
Dorme o sono perfeito.
De um nédio sapo a que chamava "o astrônomo",
recebia com graça e proveito,
previsões sobre o tempo e seus fenômenos. Dorme o sono perfeito.
Foi intrépido, prestimoso, agílimo.
A espingarda de jeito,
no alvo das onças nunca teve símile. Dorme o sono perfeito.
Na sua firme diligência máscula
à realidade afeito,
tinha que as horas de viver são rápidas. Dorme o sono perfeito.
FRATER IGNATIUS
In cryptae sacrae tumulo ab epistola iacet Frater Ignatius.
In silva natus, fuit ut silva rusticus
qui nunc perfecte recubat.
Aeneo colore vir capillum crispulus
forsitan quoque sine litteris.
At bonus tamen fabricator Villae itineris
qui nunc perfecte recubat.
A nitido bufone quem Astrologum
vocabat, certa auguria
hiberni habebat seu aestivi temporis
qui nunc perfecte recubat.
Audax fuit semper obsequens et agilis; armatus ferrea fistula
ut ille nullus in venandas tigrides
qui nunc perfecte recubat.
Pro diligentia mascula, mortalium
assuetus rerum vicibus,
vitae ducebat horas esse rapidas
qui nunc perfecte recubat
SAO PIO MARTIR
Jovem, forte, belo e santo.
Trazei flores de pétalas recurvas
à maneira de dedos em carícia
para coroar-lhe a reclinada fronte.
Trazei almofada leve - de nuvens -
para amparar-lhe os ombros.
Trazei opalas e turmalinas raras
para adornar-lhe o peito.
E um cinturão de prata com pérolas
e um manto de veludo com franjas
para cingir-lhe o corpo.
A destra colocai-lhe a espada
(a espada de ouro com que venceu o dragão).
Depositai-lhe junto ao flanco esquerdo o cálice
com a rosa líquida de seu sangue (ó dádiva!)
Em urna de cristal resguardai a sagrada relíquia
para que todos a vejam e se perturbem e emudeçam,
o coração tomado de maravilha.
Jovem, forte, belo e santo.
SANCTUS PIUS MARTYR
Sanctus fortis pulcher iuvenis.
Flores hic ferte, suis recurvis foliis
quales mulcentis manus lenes digiti,
ut eius coronetur frons qui recubat.
Ferte etiam plumas leviores nubibus
ut eius fulciant umeros.
Post ferte gemmas et lapillos niveos
ut eius ornent pectora;
et margaritis cingulum argenteum
suisque fimbriis villosum pallium
ut eius induant corpori.
Ad dexteram locate gladium
(gladio quo draconem ille stravit aureo).
Et ponite ad sinistram prope calicem
plenum, o donum!, rosa liquida eius sanguinis.
Piae serventur urna vitrea reliquiae
mirari ut possint et mirantes omnes celebrent
in corde suo militem et martyrern
sanctum fortem pulchrum iuvenem.
A VINHA
Esta é a vinha. Que vinha
me indicais? A que aos raios
do sol ostenta as louras tranças
com laços verdes, carregada
de ressumantes cachos de uva?
A que oferece momentâneo
refrigério aos sentidos?
A vinha, núcleo de delícias,
em cujo sumo se resguarda
alguma cousa além do que percebem
nossos lábios mortais?
Esta é a vinha das vinhas,
a mesma vinha do Senhor:
graciosa dádiva da espécie
para a sede infinita.
VINEA
Haec est vinea. Quaenam vinea?
An illa calido sub sole
quae auratis crinibus ornata
virentes inter vittas stat
racemis plena dulce plenis?
Anne quae praebet nostris fugax
sensibus refrigerium?
Anne voluptatum vinea fons
cui suave illud reservatur
omnes superaturum vini gustus
mortalium labris notos?
Haec est vinea vinearum
haec est illa vinea Domini
gratum donum speciei
infinitum sitienti.
MOMENTO NO TANQUE GRANDE
Como estas águas volumosas e verdes, guardadoras do celestial arcano,
conhecer das nuvens o nome
e silenciar.
Como estas águas violentas e represadas
a que se apegam os odores da natureza, assistir à deliquescência do tempo
e orar.
Como estas águas profundas e quietas
que são o espelho primitivo da divindade, contemplar a face do eterno
e abismar-se
AD MAGNUM LACUM
Hae sicut aquae multae viridesque
arcani caelici custodiae
scire nomina nubium
et silere.
Hae sicut aquae captae validaeque
quibus naturae adhaesit halitus
adesse temporis deliquio
et precari.
Hae sicut aquae clarae placidaeque
Divinitatis prius speculum
mirari Aeterni faciem
et submergi.
PASSEIO A CAPELINHA
Ei-la dentre os bosques, lá no alto.
Passai pelo pomar e a vinha.
E logo chegareis, de um salto,
à Capelinha.
Mais devagar. Não é tão perto,
e nem fácil como convinha.
Um caminho é certo, outro incerto,
para a Capelinha.
Ide margeando o claro riacho
enquanto ele enfia na linha
as contas de um rosário, abaixo
da Capelinha.
Canelas de ema. Samambaias.
Embaúbas. Quem adivinha
se fica ou não entre essas raias
a Capelinha?
São nuas pedras, seixos duros.
A vereda não acarinha.
E mal se sabe onde ergue os muros
a Capelinha.
Ó paisagem maravilhosa!
A alma já do céu se avizinha
ao pressentir o odor de rosa
da Capelinha.
Mas se tendes agouros maus
ou pecados - por vida minha! -
não atingireis os degraus
da Capelinha.
ITER AD SACELLUM
Illic in alto et intra nemora.
Iter per vineam si facias
brevi uno saltu iam pervenies
ad Sacellum.
Lentius i. Non est in proximo
nec quam putares est facilius.
Haec certa via incerta est altera
ad Sacellum.
Perge secundum lenem rivulum
rosarii granula dum inserit
pie fluendo infra candidum
Sacellum.
Nunc silva rigida nunc frigida.
Via fit aspera. Quis diceret
an his in plagis muri iaceant
Sacelli?
Sunt dura saxa et nudi lapides.
Non pedes tuos mulcet semita.
Incerte scis ubi sint tegulae
Sacelli.
Huc illuc prospice. Mirabile!
Anima tua caelo proxima
iam odoratur rosas rustici
Sacelli.
Sed aut si mala habes praesagia
aut si peccata in corde condita
vae tibi, intrare iam non poteris
Sacellum.
DIVERTIMENTO
O esperto esquilo
ganha um coco.
Tem olhos intranqüilos
de louco.
Os dentes finos
mostra. E em pouco
os dentes finca
na polpa.
Assim, com perfeito estilo,
sob estridentes
dentes,
o coco, em segundos, fica
todo oco.
RECREATIO
Rapidus accipit
sciurus nucem.
Non tranquille volvit oculos
amentes.
Suos acutos
dentes ostentat
queis pulpam mox
revulnerat.
Sic arte mire perfecta
Stridentium
dentum
nux patet tota statim
plene cava.
CIGARRA
No alto dos ramos a cigarra
faz uma estrídula algazarra.
Fundo musical de tela,
o mundo é pequeno para ela.
Canta estraçalhando cristais
de ardentes cores naturais.
O sol a pino, de escutá-la,
no auge da canícula, estala,
Semi-oculta entre folhas verdes,
espera a graça de a atenderdes.
Uma cigarra vale pouco
para quem tem o ouvido mouco
CICADA
Cicada in summis ramulis
ciamore strepit stridulo.
Non mundus totus musicus
cicadae parvae sufficit.
Frangitque vitra cantitans
septem picta coloribus.
Sol flammat igne altissimus
et simul fervet cantico.
illa sub umbra viridi
aures sperat benevolas.
Sed quae non audiunt auribus
cicada est parvi pretii.
CAMÉLIA
Vinde ver a camélia
pela madrugada nascida,
antes que o sol lhe tisne
a epiderme.
Tão plácida na sua intimidade. É o círculo
em que se encontram os corações. É o elo
do entendimento recíproco. São as asas
do anjo cerradas pela paz. É a pomba
que em palma oferecida pousa. A lua
que se esqueceu das nuvens e queda
em singelo convívio. 0 nó
macio e branco da amizade. 0 ninho
que se fecha sobre si mesmo - completo.
CAMELLIA
Natam diluculo camelliam
contemplare. Sed ante venias
quam eius sole deteritur
splendor.
Intimo sui ut placida est. Est circulus
quo corda veniunt invicem. Est annulus
de cognitione mutua. Sunt alae
angeli pace repostae. Est columba
in obvia palma residens. Est luna
quae nubibus oblitis etiam remanet
longo dulcique in sodalicio. Est nodus suavisque et niveus amicitiae. Est nidus
qui in semetipso clauditur perfectus.
O SILENCIO
E só depois da terceira noite
no recesso das nuvens
ao abrigo de torrentes e borborinhos, principiareis a ouvir o silêncio.
Não o rumor de insetos contra os vidros do ar,
nem o dos talos da planta crescendo.
Nem mesmo a bulha mínima
de rocio a escorrer em pétalas.
Mas leve aragem da mudez que precede
ao balbucio do pensamento.
Obscura nostalgia de acorde
em fios tensos de violino
antes de feri-los o arco.
Um apenas prenúncio de passos
de amorosos passos divinos
caminhando no tempo sobre impalpáveis areias
e musgos tácitos
e brancas pedras votivas.
Um como fugir do sangue
à hora da almejada entrevista.
O abandono do corpo - não à atração telúrica -
à transcendência da natureza.
E o coração da criatura pulsando uníssono
de encontro ao vivo coração do Criador.
SILENTIA
Post tertiam tandem noctem
in secessu nubium
procul a turba strepituque
silentium audies.
Non rumorem quo musca secat aerem
vel crescit plantae caulis;
nec sonum ipsum minimum
quo tremit ros in folio;
sed auram brevem mutitatis
nuntiam mentis haesitantis;
aut fuscum illud desiderium
in lyrae tensae filis
nondum pectine tactis;
aut tenue quoddam praenuntium
divi peramantis passuum
in tempore per sabulum subtile
et herbas insonas
et alba marmora votiva;
quoddam sanguinis defectum
ante horam colloquii;
oblatum corpus non telluris viribus
sed naturae transcendenti;
creaturae cor unisonum
Creatoris cordi obvium.
O CARVALHO E SUA SOMBRA
Dentro da amêndoa veio a seiva.
A amêndoa na terra fofa
deitou raízes. Palpitou. Cresceu.
O tronco abriu-se em ramagens.
E o carvalho deu sombra.
Era uma sombra de outros mundos
e de tempos remotos.
Era uma sombra de suave
e envolvente fragrância.
Propícia ao brinquedo dos pássaros,
ao encontro de transidas ovelhas,
ao adomecimento das víboras.
Pairou a sombra sobre o vale.
Multiplicou-se nos vergéis.
Cobriu toda a montanha.
Arrimou-se aos despenhadeiros.
Atingiu, porfiada, a planície.
Penetrou os espessos muros
em que os homens se fecham.
Entrou em agonia lenta.
E, quando menos se esperava, tranqüilamente, na altura,
revestiu-se de verdes franças.
OUERCUS ET UMBRA
Intra glandem venit sucus.
Molli glans in humo sita
mox radice mota crevit.
Ramos truncus mittit novos
umbras quercus spargit primas.
Alia ex terra haec erat umbra
alio ex aevo quoque longo.
Erat etiam mitis umbra
permanantis plena odoris.
Illic aves lusitabant
illic oves quiescebant
dormiebant et serpentes.
Super vallem stitit umbra
inundavit omne pratum
involvitque totum montem
et ad nigras fauces haesit.
Semper victrix campos texit
densos et intravit muros
quibus viri se clausere.
Lente post mors coepit umbrae.
Inopina tamen floruit
superius tranquille induta
foliis viridioribus.
TRADIÇÃO
O Caraça tem diadema
de ouro que ninguém conhece.
- Mas o ouro puro da gema
traz o signo de outra espécie.
Apagou-se o rastro andejo
de Bento Godóis Rodrigues
junto aos três almofarizes
que ficaram de sobejo
quando ele para haver água
distraidamente cava
e à flor da terra descobre
mina que o salvou de pobre.
Não se sabe onde o artesão
misterioso peregrino
nos seus andrajos tão chão
como seguro no tino,
de passeios solitários
pelas brenhas caracenses
colhe barras, com a licença
de dourar os relicários.
Em jazidas ou feitiços
dorme o ouro do preto velho
que matreiro por discreto
desfruta filão maciço.
E no seu momento extremo
quer revelar o sigilo
pelos silenciosos reinos
até hoje a persegui-lo.
Desapareceu de vez
para dramático espanto
dos construtores da igreja,
às ordens do padre santo,
jorro de fulvo metal
que das feridas da rocha
aos estampidos da pólvora
emergiu - talvez do mal.
O Caraça tem diadema
de ouro que ninguém conhece.
- Mas o ouro puro da gema
traz o signo de outra espécie.
TRADITIO
Caracensi monti diviti
est diadema ex auro incognito
sed aurum verum quod possidet
signum habet aliud genere.
lam deleta sunt vestigia
viatoris qui mortaria
tria misit inutilia
postquam sibi rivum quaeritans
dum remisse terram excavat
ibi ad summam superficiem
insperatum aurum invenit
paupertatis suae terminum.
Nemo scit ubi homo erraticus
tantum miser in panniculis
quantum callidus ingenio
ambulando solitarius
per dumeta caracensia
illud aurum sibi colligat
e